A pequena igreja de Rio Mau tem sido uma das mais debatidas obras românicas do nosso país, pela qualidade e importância das realizações escultóricas que congrega. Quer o complexo programa iconográfico dos capitéis da cabeceira, quer as representações dos tímpanos dos três portais são manifestações maiores da nossa arte do século XII e princípios de XIII e a sua análise tem conferido ao monumento um estatuto singular no panorama da arte românica em Portugal. O mosteiro já existia em 1103, estando dedicado a São Cristóvão, pelo que é de admitir que a sua fundação se tenha verificado nas derradeiras décadas do século XI, altura em que a liturgia romano-cluniacense entrou no antigo reino de Leão, substituindo as anteriores determinações hispânicas, com a consequente renovação de oragos e de cultos. Os vestígios materiais mais antigos, todavia, não são de época tão recuada e estão catalogados a partir de 1151, ano em que o sacerdote Pedro Dias terá patrocinado a obra românica, de acordo com uma inscrição comemorativa do arranque dos trabalhos, localizada "no ângulo sudeste do interior da ábside" (MONTEIRO, ed. 1980, p.313). Desta primeira época data a cabeceira, verdadeira obra maior do nosso românico, apesar de, em termos volumétricos e planimétricos, não se afastar de muitas outras edificações modestas contemporâneas, de escassa altura, com dois tramos abobadados. Ela "ficou a dever-se a um artista que conhecia perfeitamente a escultura galega" (REAL e ALMEIDA, 1990, p.1488), facto que coloca esta obra em plena zona de expansão do românico do Alto Minho, constituindo, mesmo, o melhor exemplo desse vocabulário regional em terras a Sul do rio Lima. O principal interesse desta parcela do edifício reside nos seus capitéis, que veiculam um programa iconográfico de difícil explicação e ainda longe de totalmente esclarecido. O que mais tem suscitado interesse por parte dos investigadores é o capitel do lado Sul do arco triunfal, decorado nas suas três faces: um jogral na frente voltada à nave; dois homens prendendo uma mulher na principal e uma mulher transportando uma figura com um bastão nas mãos na última. "Vários autores debruçaram-se sobre esta peça mas nenhuma das interpretações defendidas (...) se parece coadunar totalmente com a estrutura iconográfica do capitel" (BARROCA, 1992, p.118). Desde um episódio da Chanson de Roland, à evocação de São Cristóvão, passando pela alusão a um ataque viking (RODRIGUES, 1995, p.275) ou ao desastre de Badajoz de D. Afonso Henriques (OLIVEIRA, 1964), não foi ainda possível chegar a um consenso e, igualmente importante, uma leitura que se insira no conjunto iconográfico mais vasto. A nave do templo e os seus três portais pertencem já a um momento posterior em relação à cabeceira. Carlos Alberto Ferreira de Almeida situou a conclusão dos trabalhos já no século XIII, pelas características do portal Sul (ALMEIDA, 2001, p.102) e aqui assinala-se uma alteração da orientação da empreitada, com a introdução de temas vincadamente beneditinos (REAL e ALMEIDA, 1990, p.1488). No tímpano do portal Norte existe a "única cena de luta representada num tímpano" românico português (FERRÍN GONZÁLEZ, 2002, p.170), um grifo e um dragão, numa provável alusão a Cristo contra Satanás (RODRIGUES, 1995, p.308). Mais importante é o tímpano do portal principal, onde se retratou um bispo (com báculo e a mão direita erguida, como que abençoando) ladeado por dois diáconos e pelos símbolos do Sol e da Lua, possível representação de Santo Agostinho, autor da Regra dos Cónegos Regrantes, a quem pertencia a obra. Em 1443, o mosteiro foi extinto e anexo ao de São Simão da Junqueira. Com escassas obras ao longo da época moderna, e perdidas as dependências monásticas, só nos finais da década de 60 do século XX se procedeu ao seu restauro. O coro-alto, presumivelmente barroco, foi demolido em 1980, adquirindo o templo, então, o aspecto que mantém...
Read moreA nave é única com cobertura de madeira. Os portais são a parte mais interessante desta parte da igreja. O portal lateral norte tem um tímpano esculpido com um dragão e um grifo enfrentados, uma provável representação da luta entre Jesus e o diabo. Já o portal principal tem um tímpano mais complexo: no centro há um bispo em atitude de bendição, provavelmente Santo Agostinho, uma vez que o mosteiro pertencia aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. O bispo é ladeado por dois pequenos diáconos e, mais externamente, por duas pequenas figuras, um pássaro com um sol e uma sereia segurando uma lua, símbolos também associados a Santo Agostinho. Este tímpano foi executado de maneira ingênua mas não deixa de ser um belo exemplo de escultura e iconografia românica. Os capitéis da portada principal seguem o estilo do "românico beneditino" típico do norte...
Read moreEsta Igreja Românica do séc. XII, localizada em Rio Mau, freguesia de Vila do Conde, fez parte de um antigo mosteiro que já existe na atualidade. É um importante exemplar de arte românica portuguesa, tendo sido classificada como Monumento...
Read more