Quando a luz atravessa os vitrais do Centro Cultural Justiça Federal do Rio, projeta padrões prismáticos sobre pisos de madeira que testemunharam quase um século da história judicial brasileira. Agora, esses mesmos pisos rangem sob os pés dos visitantes que contemplam mecânica quântica e espaços infinitos.
Numa obra-prima de reuso adaptativo, este templo da jurisprudência transformou-se em um dos espaços mais envolventes do Rio para a arte contemporânea. O edifício neoclássico, com sua imponente fachada cor de creme na Avenida Rio Branco, abriga atualmente duas exposições que desafiam e complementam sua gravidade histórica.
"INFINITOS", de Maria Lynch, em cartaz até 16 de fevereiro, preenche os salões grandiosos do edifício com telas expansivas que pulsam com formas biomórficas e cores saturadas. Lynch trata o espaço clássico como moldura e contraponto — suas abstrações orgânicas insurgem contra a geometria rígida da arquitetura, criando um diálogo entre contenção e libertação que espelha a própria evolução do edifício, da restrição burocrática à liberdade cultural.
Mas é em "Espaços Quânticos", de César Oiticica Filho, que o edifício encontra sua parceria contemporânea mais intrigante. Oiticica Filho, trabalhando desde 2000 com o que ele denomina "pintura quântica", criou uma instalação que faz uso engenhoso da abundante luz natural do edifício. Suas 80 transparências suspensas transformam a iluminação mundana em investigação metafísica, convertendo os corredores formais em laboratórios de percepção.
A exposição, dedicada ao avô do artista, José Oiticica Filho, no 60º aniversário de seu legado, parece particularmente em casa neste espaço. Assim como o edifício transita entre passado e presente, o trabalho de Oiticica Filho conecta técnicas analógicas e digitais, pintura tradicional e processo fotográfico, presença material e luz efêmera.
A reabilitação do centro oferece uma aula magistral em preservação arquitetônica. As características originais — molduras ornamentadas no teto, escadarias em ferro fundido e calçadas portuguesas — foram meticulosamente mantidas. No entanto, o espaço mantém-se vital em vez de museológico. Os pisos de madeira listrados, que poderiam parecer meramente decorativos nos dias judiciais do edifício, agora criam sutis contrapontos geométricos à arte exposta.
Talvez o mais notável seja como a teatralidade inerente ao edifício — suas escadarias processionais, seus salões cerimoniais — foi reaproveitada para a arte. Os espaços que antes intimidavam peticionários agora convidam à contemplação. Os corredores que antes canalizavam deliberações legais agora encorajam o vagar estético.
Esta evolução institucional reflete mudanças mais amplas na sociedade brasileira, à medida que espaços de autoridade se tornam locais de diálogo cultural. A localização do centro no centro do Rio o coloca na intersecção entre poder histórico e discurso contemporâneo, enquanto sua programação abraça cada vez mais tanto artistas emergentes quanto vozes estabelecidas.
Como o Brasil continua a negociar sua relação com autoridade e história, o Centro Cultural Justiça Federal oferece um modelo convincente de reinvenção institucional. Aqui, no equilíbrio cuidadoso entre contenção clássica e expressão contemporânea, vislumbramos possibilidades para outras transformações, outros diálogos entre passado e presente.
O edifício permanece imponente, sua fachada ainda fala de poder e permanência. Mas agora é o poder da arte que flui por seus corredores, e a permanência que busca é cultural, não judicial. Na paisagem urbana em transformação do Rio, ele permanece como testemunho de como a arquitetura reaproveitada com sensibilidade pode servir não apenas como recipiente para a cultura, mas como catalisador de...
Read moreEsta é uma casa de cultura, mas já foi a sede da mais alta corte de justiça de nosso país. O atualmente conhecido como Centro Cultural da Justiça Federal, foi outrora a sede do Supremo Tribunal Federal no Rio de Janeiro. O prédio teve sua construção iniciada em 1905 como parte do então em curso projeto de reformulação urbanística da então Capital Federal, e estava inicialmente destinado a abrigar a Mitra Arquiepiscopal. Após o início das obras, o prédio foi adquirido pelo governo federal para a instalação do Supremo Tribunal Federal que à época ainda não possuía uma sede definitiva, sendo inaugurado em 3 de abril de 1909. Seu projeto arquitetônico é assinado pelo arquiteto Adolpho Morales de los Rios, nascido em 1858 em Sevilla, Espanha, constituindo-se num dos mais importantes testemunhos da arquitetura em estilo eclético no país. Adolpho Morales foi presidente do conselho federal de arquitetura e engenharia vindo a se afastar apenas aos oitenta anos e em razão de saúde. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1928, deixando obras não apenas na antiga capital federal, como também em Salvador, Recife e Maceió. O STF ocupou o prédio até 1960 quando da mudança da capital federal do Rio de Janeiro para a recém inaugurada Brasília, e desde então a edificação abrigou o Superior Tribunal Eleitoral e o Tribunal de Alçada e Varas da Justiça Federal de 1ª instância. Entrou num longo período de obras nos anos noventa vindo a ser reinaugurado ao público já como centro cultural em 4 de abril de 2001. A edificação conta hoje com doze galerias, teatro, cinema, sala de cursos, além da Sala de Sessões, preservada e de profunda relevância histórica, aberta à visitação. Destaco que a visitação ao edifício é gratuita, assim como as exposições costumeiramente em cartaz. Cinema e teatro têm cobrança à parte. Visitação de terça a domingo, das 11h às 19h, sem necessidade de agendamento. Conheça mais este equipamento cultural histórico do...
Read moreCentro-1914 A imagem tomada da encosta do morro do Castelo, na altura da atual rua Pedro Lessa com a rua México, no centro do Rio, de onde avistamos, em primeiro plano, à esquerda, o prédio do Centro Cultural da Justiça Federal e, à direita, o edifício da Biblioteca Nacional
Em segundo plano, vemos o trecho da avenida Rio Branco em frente à atual praça Floriano Peixoto (Cinelândia). Do outro lado, o terreno vazio que ficou da demolição do Convento da Ajuda (1911), na altura aproximada onde hoje se localiza o bar Amarelinho e o Edifício Paulino Ribeiro Campos, número 51.
Ao fundo, vê-se o aqueduto da Lapa e no fundo o Morro de Santa Teresa com e o convento homônimo.
A construção do Centro cultural da Justiça Federal teve início em 1905, como parte integrante do projeto de reformulação urbanística da cidade, então Capital Federal. Projetado pelo arquiteto Adolpho Morales de Los Rios, o edifício é um dos mais importantes testemunhos da arquitetura eclética do país.
Em outubro de 1911, o convento da Ajuda foi demolido e as freiras foram despejadas, e transferida para um casarão de estilo neoclássico na Rua Conde de Bonfim, Tijuca. Ali, elas permaneceram até 1920, quando a área foi desapropriada pela Prefeitura para a construção da Rua Alm. Cochrane.
A Praça Floriano localiza-se num largo aberto durante as obras de construção da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco). Ocupa parte do terreno do antigo Convento da Ajuda, construído no século XVIII e demolido na primeira década do século XX. Em frente ao Convento da Ajuda, nas áreas da Biblioteca Nacional e do Centro Cultural da Justiça Federal, localizava-se o Seminário São José, que ficava ao lado da ladeira da Ajuda (também chamada de ladeira do Seminário). •• 📸 1914....
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